segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Gagau do subúrbio é mais legal




Muito se falou neste mês sobre um texto de um pai cretino que dizia que a filha ficaria sem o seu gagau. Para toda uma vizinhança em um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, entretanto, o neologismo traz algumas boas lembranças.

Gagau era uma risonha mulata, com seus 35 anos, ainda bonita mas no início do inevitável processo de embarangamento que acomete a maioria das mulheres. Ela "se juntou" com Bilo-Bilo (tinha esse apelido por um problema na dicção similar ao do Cebolinha e "Biro-Biro" era uma das palavras mais engraçadas que ele falava) quando tinha ainda uns 16 anos, mas se separou depois de não suportar mais as bebedeiras e traições do fogoso Bilo-Bilo. 


Gagau trabalhava na casa de Dona Mirtes, uma solitária e simpática viúva que era dona da barraca de doces da rua e morava junto com a patroa. Seu quarto era em uma quitinete no mesmo quintal, onde Gagau só ia para ouvir música no rádio (Gagau não curtia novelas) e dormir. Depois de se separar,sem filhos, Gagau começou a demonstrar interesses por adolescentes que formavam um animado time de futebol. 


Entre os atletas, goleiro Bozo (dono de um "belo" penteado), os zagueiros Kichute (Uma espécie de "nike hétero" da época) e Arlito (na verdade Carlito, mas assim como Bilo-Bilo, não procurou um fonoaudiólogo na infância, quando recomendado), o volante Bôster (Assim como seu "quase xará" James Buster Douglas, era capaz de bater até no Mike Tyson), o pequenino meia Cu-de-Cobra, os atacantes Zépi (abreviação de "Zé Pilintra") e Ociz (o pessoal dizia que ele era tipo um Zico ao contrário), entre outros. 


A casa de dona Mirtes era atrás de um dos gols do campinho, e Gagau costumava deixar umas garrafas de água no "congelador" (saudades de congelador, hoje é tudo essa coxinhice de freezer) pra galera matar a sede depois dos jogos. Inevitavelmente, a bola caía no quintal de dona Mirtes de vez em quando, nas horas em que a força superava a técnica em chutes de média/longa distância.


Numa dessas, ao tocar a campainha para pegar a bola, o galã do time, Ociz foi convidado por Gagau para tomar um suco com as goiabas da árvore no quintal de dona Mirtes (que, nos horários de jogos, já tinha fechado a barraquinha de doces e não perdia suas novelas por nada). Ociz atirou a bola do próprio quintal por cima do muro para o campo mas não voltou e então eles foram para o quartinho de Gagau e o inábil canhoto conseguiu uma história para se gabar no dia seguinte.


Algns dias depois, foi Cu-de-Cobra quem aceitou o convite. Depois vieram Arlito, Bôster, Kichute e quase toda a turma. Um a um todos os atletas tiveram seu(s) dia(s) com a Maria-Chuteira mais famosa da Rua de Baixo, Campinho e adjacências. 


A rapaziada passava a "caprichar" nos chutes tortos com o objetivo ser o responsável por buscar a bola (ou "buscar a vergonha", como se diz ainda hoje no subúrbio) na casa da dona Mirtes. Até Bozo caprichava nas espalmadas, até em bolas facílimas de encaixar.


Mas a alegria, como diz a canção (se nenhuma canção diz, deveria dizer) um dia acabou. Não para Gagau, mas para os garotos que foram crescendo, virando adultos e perderam a preferência da sapeca torcedora para a nova geração que surgia.

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